Do Sofrimento à Compaixão
- Lucas Ávila
- 6 de fev.
- 3 min de leitura
Atualizado: 10 de fev.
Já faz um tempo desde que passamos a constatar a falta de controle sobre nossos próprios pensamentos, não é mesmo?
Inclusive, nas abordagens com as quais trabalho, é muito comum identificá-los sob o conceito de comportamentos privados, uma vez que podem ser entendidos como um movimento, uma ação ou resposta a nível cognitivo que, em sua grande maioria, são involuntários.
Parte de quem somos está em categorizar determinados tipos de pensamentos como classes de respostas, uma espécie de protocolo para quando nos deparamos com determinados tipos de situação.
Entre eles, estão os pensamentos de autocobrança e autocrítica.
A autocobrança vem da necessidade de atender um nível de perfeição exacerbada, junto de resultados que por vezes, não se enquadram nos recursos que temos à disposição. A premissa está em evitar falhas, dado o bicho homem e sua dificuldade em sentar na cadeira do aprendiz.
O imediatismo anseia pelo resultado, enquanto que a comparação constante retrata o medo da avaliação de terceiros e a possibilidade de rótulos negativos e desfavoráveis.
O valor do processo de desenvolvimento é sempre descartado. Deixamos de perceber o fenômeno que Carol Dweck - autora de Mindset, a nova psicologia do sucesso - chama por “Poder do Ainda”, o único elo possível entre o presente e o futuro.
Errar é humano, mas e eu com isso?

A relação com pensamentos de autocobrança em um nível saudável pode sim, ser bastante útil para elaboração de metas, na busca em atender objetivos, assim como no enfrentamento de desafios. Mas como todo relacionamento, o equilíbrio ainda se faz necessário.
A única garantia em se manter fechado para a necessidade de crescimento é a intolerância em lidar com o inevitável: manejar a experiência do falhar. Então surge a autocrítica.
Esta, por sua vez, é uma espécie de "fodedback" exagerado sobre nossas entregas e desempenhos. Andando lado a lado com a autocobrança, você pode imaginar a auto crítica como uma avaliação expressamente negativa a seu respeito, levando inclusive à depreciação.
Imagine a figura de um carrasco ou torturador que visa a punição pelo crime que foi cometido.
Que não se repita!

Apesar de tais respostas ou comportamentos virem à tona de forma muito natural, os prejuízos são imensos. Aqui você experimenta desde:
sentimentos de inadequação;
baixíssima autoestima;
ansiedade e desgaste emocional;
até a incapacidade de satisfazer-se perante as próprias conquistas.
Mas então por favor, diga lá, como escapar?
É preciso trilhar um caminho novo na relação com esses Autos. Esse “espelho, espelho meu” que não poupa esforços em te exigir e massacrar sob a premissa de atender a falsa ideia de um futuro idealizado. Vem aí a Auto compaixão.
Como todo fiel escudeiro(a), seu poder vem de um elo genuíno que por meio da partilha, dá conta de acolher a dor da queda. De lembrar que apesar da batalha, a guerra ainda não está perdida. Seu grande trunfo está na capacidade de compreender todas as variáveis para além do resultado. Afinal, apesar de sua relevância, não parece justo negligenciar o processo e todos os aprendizados que dele podem surgir.
Quando se perceber sequestrado(a) por tais pensamentos, que tal uma pausa?
Busque um lugar reservado (na falta, vale apelar até para o banheiro), feche os olhos, inspire profundamente, contenha o ar nos pulmões por alguns segundos, exale pela boca e em seguida, leia em voz alta:
Sou humano em minha legítima essência. Meus pensamentos não passam de um reflexo do que vivo. Minha mente age com a melhor das intenções, ainda que nem sempre saiba como me ajudar. Reconheço meus limites e aceito que cometo falhas. Delas posso não me orgulhar, com elas me dou o direito de aprender.

A auto compaixão é um espaço seu consigo mesmo capaz de possibilitar uma nova ótica para lidar com erros e imprevistos de maneira mais gentil e acolhedora. Sobretudo, mais saudável.
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